Uma Reflexão Sobre Tecnologia e Legado
Confesso que, às vezes, me sinto privilegiado na minha carreira por ter tido a oportunidade de trabalhar com sistemas de diversas gerações, cada um com suas qualidades e peculiaridades. Recentemente, tive uma experiência interessante que gostaria de compartilhar com vocês.
A Consultoria que Revelou uma História
Durante este ano, meu cunhado pediu que eu realizasse uma consultoria na empresa onde trabalha para analisar o sistema que utilizam. Para minha surpresa, descobri que a empresa está na terceira geração de donos! Os fundadores ainda estão vivos e me contaram que começaram pequenos, viram o negócio crescer dia após dia, e hoje possuem uma grande empresa com inúmeros funcionários.
O mais curioso? Eles utilizam um sistema que está funcionando há mais de 20 anos.
O Sistema que “Nunca Funcionou Bem”
O sistema foi desenvolvido em VB, conectado diretamente a um banco de dados. Quando ouvi isso, pensei: “Sim, há sistemas em COBOL rodando até hoje, então o que tem de especial?” Mas o que me chamou a atenção foi um comentário de um dos filhos do fundador:
“Esse sistema nunca funcionou bem.”
Achei curioso. Como algo que roda em produção há mais de 20 anos pode nunca ter funcionado bem? É claro que ele talvez não atenda mais todas as necessidades atuais, afinal, tecnologia evolui, e muita coisa mudou em duas décadas: topologias, formas de conexão, processamento, armazenamento…
Ainda assim, esse sistema permanece em pé, funcionando com várias adaptações feitas ao longo do tempo.
Análise e Alternativas
A empresa me pediu sugestões sobre como poderiam modernizar a solução. Após uma análise cuidadosa, perguntei a mim mesmo: “Eles realmente precisam mudar agora?”
Realizei uma pesquisa de mercado para identificar sistemas que pudessem atender parcial ou completamente às necessidades deles. Fiz também um levantamento de custos para desenvolver uma nova solução do zero. Apresentei essas alternativas de forma clara e com base em dados, pois, como dizem, contra fatos não há argumentos.
Conversando com o Fundador
Conversei com o fundador sobre sua opinião do sistema. Ele respondeu:
“A única coisa que não gosto muito é que, de vez em quando, dá uma ‘travadinha’.”
Fiquei surpreso. O sistema foi projetado para rodar exclusivamente em ambiente físico, e ao analisar o data center, a estrutura de cabeamento e os terminais de atendimento, tudo estava em ordem. Conversamos sobre a possibilidade de migrar a solução para a nuvem, desenvolver um aplicativo ou outras alternativas.
Desenhei possibilidades, analisei cenários e apresentei algumas soluções disponíveis no mercado. Contudo, deixei claro que a decisão final era deles.
Definindo Sucesso
A experiência me fez refletir sobre o conceito de sucesso. Imagine projetar algo que funcione por mais de 20 ou 30 anos. Que honra seria voltar a esse lugar com os cabelos brancos e pensar: “Nossa, eu projetei isso e ainda funciona!”
Lembrei de uma experiência pessoal: voltei a um local onde trabalhei e vi uma solução minha ainda funcionando. Não é algo comum nos dias de hoje, com mudanças tecnológicas tão rápidas e novos padrões surgindo constantemente. O mercado muitas vezes valoriza “dar fim ao legado” para inovar, mas há algo especial em sistemas que resistem ao tempo.
O Valor de Modernizar
Apesar de toda nostalgia, não posso negar que modernizar faz sentido. No mundo competitivo em que vivemos, estabilidade e longevidade de uma empresa dependem de sua capacidade de se adaptar.
Hoje, a maioria dos concorrentes possui sites, plataformas digitais, sistemas mobile e atendimentos totalmente integrados. Esses diferenciais trazem competitividade, e as preocupações apresentadas pela empresa são legítimas.
Conclusão
Trabalhar com a análise de sistemas e transformação digital é uma oportunidade única de entender o passado, avaliar o presente e planejar o futuro. Encontrar um sistema antigo, mas funcional, e ver parte dos donos satisfeitos com seu desempenho, foi uma experiência marcante para mim.
Não quero dizer que manter o legado é sempre a melhor escolha. No entanto, essa jornada me ensinou que é possível equilibrar o respeito pelo que funciona com a necessidade de inovar.
Espero que este relato tenha trazido reflexões e inspiração. Um grande abraço!
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